Ordem de 500 mil euros fez disparar acções do Benfica
PEDRO FERREIRA ESTEVES
LUÍS MANUEL NEVES-'O JOGO' (imagem) Um só negócio
explica a agitação que se observou, sexta-feira, nas acções da
Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Sport Lisboa Benfica. Após a
suspensão decidida pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
(CMVM) - na sequência de declarações acerca de uma suposta oferta
pública de aquisição (OPA) de um grupo chinês sobre a SAD do Benfica -
as acções regressaram com uma valorização de 62%, atingindo 6,11 euros.
Mas a subida foi da responsabilidade de um investidor, que gastou 500
mil euros para comprar 81 609 acções no mesmo segundo: 15.51,00.
Este número de títulos adquiridos representou, por outro lado, mais de
metade do volume total negociado até ao fecho da sessão (quase 160 mil
acções). E desde que a ordem foi dada, as acções da SAD benfiquista
estiveram sempre a descer, com mais nenhum investidor a arriscar a
compra de títulos a um preço superior. O valor de fecho foi de 4,50
euros, mais de 20% acima do preço da véspera, mas já muito abaixo dos
6,11 euros.
Mesmo em quantidade, nenhuma outra ordem se aproximou da primeira. A
segunda mais elevada foi de 15 mil títulos e já a um preço bem mais
baixo (4,61 euros).
Esta ordem pode vir a ser alvo de uma análise mais cuidada por parte da
CMVM, a par da investigação sobre a revelação do empresário Vasco
Pereira Coutinho de que havia interesse de chineses em lançaram uma OPA
sobre a SAD. Até ao fecho desta edição, não foi possível confirmar o
que fará o regulador. Mas o Código de Valores Mobiliários é claro no
seu artigo 379.º, sobre manipulação de mercado, quando refere que "quem
(...) realize operações de natureza fictícia ou execute outras práticas
fraudulentas que sejam idóneas para alterar artificialmente o regular
funcionamento do mercado de valores mobiliários (...) é punido com
prisão até três anos ou com pena de multa". Por práticas fraudulentas
que alterem artificialmente o preço das acções, a lei entende "os actos
que sejam susceptíveis de modificar as condições de formação dos
preços, as condições normais da oferta ou da procura de valores
mobiliários".
Mas é crime comprar acções em grande quantidade e a um preço elevado?
Não necessariamente. Qualquer investidor pode dar a ordem de compra que
quiser, ao valor que entender. Mas, no caso das SAD desportivas, a
fraca liquidez - os títulos do Benfica foram dos menos negociados do
Euronext Lisboa, na sexta-feira - torna menos lógico uma intenção de
compra a um preço tão alto. Isto porque o preço permitiu arrecadar
todas as acções que estavam no mercado para vender "ao melhor preço". O
que explica que tenham sido registadas 254 operações para "alimentar" a
ordem de compra a preço tão elevado, segundo dados do Euronext Lisboa.
Quais foram, então, as motivações do investidor que gastou 500 mil
euros para comprar acções da SAD do Benfica? Uma coisa é certa: quem
propôs a compra àquele valor queria ter acções do Benfica. No entanto,
os 81 609 títulos comprados não chegam a 1% do capital da SAD, logo,
não dão uma posição de relevo na sociedade. Por outro lado, poderá ter
havido a intenção de apostar nas notícias daquele dia sobre a eventual
OPA de um grupo chinês. Contudo, essa aposta não deu frutos, porque o
resto do mercado não chegou aos sete euros anunciados como o preço
dessa operação. Quanto à possível manipulação, caberá à CMVM, se assim
o entender, procurar a resposta. |