A resposta à pergunta retórica de Pinto da Costa na recente entrevista ao “Público” é imediata: em Portugal, efectivamente, poucos conheciam Helton em finais de 2002. Mas eram ainda menos os que sabiam do acordo que fez da União de Leiria um entreposto para o FC Porto do então guarda-redes da selecção olímpica brasileira, jogador do Vasco da Gama. Nem os próprios treinadores que o orientaram até ele cumprir o seu destino? final.
Ao invés do procedimento habitual – comprar o jogador e emprestá-lo para rodagem noutro clube – Pinto da Costa usou a táctica do segredo, contando com a conivência do presidente da U. Leiria, João Bartolomeu, e/ou do empresário Jorge Baidek. Um segredo que, inesperadamente, o presidente do FC Porto desfez na entrevista ao “Público”.
Com esta revelação, Pinto da Costa permite reler uma parte significativa da história recente do futebol português, entre Janeiro de 2003 e Maio de 2005, exactamente o período em que Helton esteve em Leiria, em trânsito para o Dragão. E defrontou o FC Porto por seis vezes, incluindo duas finais: uma Taça de Portugal e uma Supertaça, ambas ganhas pelo seu actual clube.
Ignorância
Durante este tempo todo, entre os “enganados” terá estado o Sporting. Apesar de os rumores da ligação de Helton ao FC Porto terem surgido quase desde a chegada do guardião a Portugal – reforçados pelo facto de o agente brasileiro (muito ligado os dragões) ter sido o intermediário do negócio –, os leões chegaram a manifestar à U. Leiria o desejo de adquirir Helton, ainda que o contrato inicial com o clube de Bartolomeu estivesse previsto terminar no final da época 2002/2003, isto é, seis meses depois da sua chegada.
O Sporting, face à elevada verba pedida por Ricardo (então no Boavista), via em Helton uma hipótese de contratar um valor seguro e com futuro (tinha 25 anos)? a custo zero. Mais tarde, o próprio Helton fez questão de admitir que esteve perto de jogar em Alvalade.
Desaparecimento
Na segunda época (2003/2004) em Leiria, Helton esteve afastado algumas semanas da equipa, incontactável no Brasil, até para os amigos. Um episódio estranho que o próprio explicou posteriormente com problemas de saúde da mãe e da avó.
Ultrapassados os problemas (os familiares e os criados com o clube em consequência), Helton continuou em Leiria, com um contrato alargado até 2007 e já então representado pelo tio, Dorival Gomes.
Em Janeiro de 2005, volta a comentar a hipótese FC Porto (para 2006/2007), dizendo desconhecer qualquer proposta ou a existência de contactos. “Comigo ainda ninguém falou, mas não sei se existe alguma proposta com o clube ou com o meu tio. Se existir fico satisfeito, mas terá de ser boa para todas as partes”, disse.
O resto é sabido. Helton foi para o FC Porto, o destino previsto desde o início, revelou agora Pinto da Costa. A presença do guardião azul e branco na Copa América, na Bolívia, ao serviço da selecção brasileira, impediu-nos de obter a confirmação do próprio. Mas não há motivo para duvidar de Pinto da Costa.