"Dá-me imenso prazer ser lido por benfiquistas"Farpas | Miguel Sousa Tavares
Helena Teixeira da Silva
Já alguém leu o seu novo romance?Os editores e a minha mulher.
Não é meio presunçoso dizer que será a sua consagração?Mas eu disse isso?! Não. O que disse é que será a minha consagração ou o meu enterro.
Disse que gostava que o "Equador" fosse adaptado ao cinema. A série televisiva é ficar a meio do caminho? Não. Tenho cinco propostas para cinema. Há a hipótese de o filme poder ser feito lá fora. Só estou à espera da tradução inglesa.
Dá palpites sobre os actores que quer ver na série?Não posso, mas dou. E posso dizer, em segredo, que já recebi muitas cunhas de actores.
Costumava reparar em quem lia o Equador?Reparava porque havia muita gente a lê-lo. A cena mais engraçada é um
casal, na praia, a ler o livro e a discutir o final, sem perceber que
eu estava atrás deles.
O novo romance é a potencial leitura deste Verão?Não. Só sai em Outubro.
A acusação de plágio não parece ter provocado grandes danos na opinião pública, que o defendeu. E em si? Estou à espera que a polícia judiciária identifique o anónimo que fez a
acusação. Mas não é verdade isso da opinião pública. Nos meus leitores
não teve repercussão; na inveja nacional teve. Sobretudo a nível de
alguma imprensa, e de onde menos esperava no 'Público', onde trabalhei
12 anos. O jornal agarrou aquilo como uma reacção de inveja do tipo:
"Vamos tentar destruir isto".
Gosta do novo 'Público'?Detesto. Deram cabo do jornal. Ainda bem que saí de lá antes.
Ganhou aversão à internet?Não. O livro tem muita investigação graças à Internet, que também uso
para jogar Bridge, quando estou cansado. E uso quando tenho muitas
saudades de terras de que gosto Rio de Janeiro, Veneza. Para sites de
conversa não tenho paciência. Aliás, as pessoas falam demais em
Portugal.
Há um blogue que se dedica exclusivamente a reproduzir as suas crónicas na Bola. Já teve algum fã psicopata?Não conheço esse blogue. Mas sim, já tive algumas fãs psicopatas.
Mulheres. Tipo aquele filme horrível, "Atracção fatal". Perseguiam-me
de automóvel, faziam-me esperas nos sítios mais inesperados, às horas
mais incríveis.
O que sente ao saber que no dia em que publica a crónica na Bola, o jornal vende mais 10 mil exemplares?Quando isso não acontecer, tenho que deixar de escrever. E, às vezes, não o devia fazer, porque não me sinto em forma.
Escrever na Bola é uma provocação? Dá-lhe prazer pensar que são sobretudo os benfiquistas que o lêem?Imenso prazer. Enfiei uma bandeira azul e branca no castelo benfiquista. E é muito estimada.
O seu fanatismo pelo FCP é incontrolável ou já faz parte de uma imagem que criou?Antes de ser figura pública, o meu fanatismo pelo Porto era vinte vezes
pior. Chorava e vomitava a ver o Porto jogar. De nervos.
É perigoso ver um jogo de futebol ao seu lado?Em casa, não; no estádio, sim.
Tem expectativa em relação ao filme de João Botelho?Ainda não é desta que ele vai fazer um filme capaz.
Não faz palestras a não ser a troco de dinheiro. Mas faz apresentação de livros. A troco de quê?A troco de nada. Faço isso por amigos. Mas não gosto de fazer.
E escreve prefácios. O que o faz caucionar o autor?Tenho que gostar da obra e admirar a pessoa. Mas já tenho dito que não a amigos.
No prefácio da Maitê Proença diz ter descoberto que, "afinal, as mulheres também choram". Foi um alívio?Foi. Bem-vindas ao mundo dos seres humanos.
E a si, o que o faz chorar?Muita coisa. Mas, basicamente, choro para dentro.